Uma drogaria na aldeia
Longe, muito longe daqui, sozinho, rodeado de coisas ao pendurão, está Joaquim Faustino. Tantas coisas para tantas utilidades nesta loja em Aldeia do Bispo, Penamacor. Tantas caixas e caixinhas. Tantas coisas para desenrascar quem se vir enrascado. Uma drogaria é isso mesmo: para resolver berbicachos domésticos. Neste pequena aldeia a banhos de sol, é na penumbra da loja que ele se mantém incógnito. Luz discreta lá dentro e sombra generosa à porta, tão suave que nos atrevemos a sentar cá fora num degrau de pedra. Não tinha clientes, logo sobrava algum tempo para dar atenção a uma chegada sem aviso de um jornalista. São 83 anos a completar já em Agosto. Nesta drogaria passou os últimos 58. “Tinha 25 anos quando fiz isto. Era construtor, mas a minha mulher queria empregar-se cá e arranjou-se isto. Antigamente fazia-se muito negócio, mas agora não se faz nada. Eu e ela e víamo-nos à rasca para atender o pessoal. Vendia-mos fechaduras, ferragens, parafusos, tantas coisas. Agora passo aqui dias sem atender ninguém”.
Estes são os mesmos dias que fustigam estas aldeias, que levam para longe gente e gentes. Houve tempos em que a drogaria do senhor Faustino fervilhava de procura, hoje permanece como muda companhia a um homem que não fecha a porta, apesar de ter dias em que só ele e as ferragens habitam esta loja. “Para não andar por ai... mantenho isto aberto, até para ver se vendia estas coisas mais velhas”.
Esta loja nunca fechou, nem nos píncaros dos maus momentos. Está sozinho e sabe que há muitas coisas “que já não irei vender, já há coisas antigas que eu sei lá...”. Mas não sai, nem acaba. Reparte a sua loja com o tratamento dos seus terrenos agrícolas. Por isso o horário de funcionamento da drogaria é simples: “é quando me apetece”.
Mas, se estiver enrascado lá em casa, nada tema. Faustino lá está atrás do balcão – é certo.
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