O meu avô João nasceu, em Aldeia do Bispo, uma pequena aldeia pertencente ao concelho de Penamacor. Filho mais velho de cinco irmãos, cedo saiu de casa para ir viver com o seu padrinho de batismo, que era solteiro e não tinha filhos, com quem se criou. Cresceu numa quinta muito grande, do outro lado da Serra da Malcata. Segundo o que ele conta, tinha de atravessar a serra para ir à escola, a Penamacor. Fazia-se acompanhar de um cão de pastor, a que ele chamou Tarik (nome que o meu cão tem, em honra desse grande amigo do meu avô), porque, naqueles tempos, a serra era ainda habitada por lobos, que o seguiram por duas vezes.
Na quinta do padrinho, cultivava-se hortaliça, batata, milho, centeio e linho. Tinham sobreiros, oliveiras, árvores de fruta e vinha. Tinham também rebanhos de ovelhas, das quais era extraído o leite para fazer queijo. A terra era lavrada com a ajuda de junta de bois, que o meu padrinho também alugava a outros lavradores. Na quinta, trabalhava muita gente e, na altura das colheitas, havia também jornaleiros ao dia. A sua alimentação nunca teve carências, uma vez que a quinta era auto-suficiente. O meu avô herdou a quinta que lhe foi deixada em testamento, mas, como a sua mãe administrou os seus bens, esta foi vendida e encontra-se hoje ao abandono, o que muito o entristece.
O meu avô vestia calças de burel e “sarrabeco”, camisa de linho e sarja e botas de cabedal feitas pelo seu tio Domingos. Usava ainda um relógio de bolso, com corrente em ouro, prenda do seu padrinho e do qual tem muito orgulho, já que ainda hoje o usa.
Mas, para ele, os melhores tempos foram os que passou em Penamacor, a aprender o ofício de mecânico, profissão que ele exerceu toda a vida. Foi também em Penamacor que conheceu a minha avó. Ia aos bailes que se realizavam no clube e também no terreiro de Santo António. Segundo conta a minha avó, era um brigão, que se metia com toda a gente e, se o alvo dos olhares dos outros rapazes fosse a minha avó, então era briga certa.
Para se deslocar entre as aldeias, o meu avô utilizava a bicicleta e mais tarde a motorizada.
Fiz este inquérito aos meu três avós (o meu avô materno já não esta entre nós), e de todos eles foi o mais triste a recordar os tempos da sua juventude, pois foram os mais felizes da sua vida.
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