terça-feira, 5 de abril de 2011

Quadras populares por António Frade

António Frade
29 de Abril de 2010 às 11:06h

Desde miúdo, que somos um grande apreciador de quadras populares. Fixamos muitas, que ainda são recitadas quando o momento se proporciona. Muitas delas, das tais quadras populares, têm um sabor especial. Sabem a povo, aquelas que são feitas no lugar, sem magoar, mas colocando o dedo na ferida… Já todos ouviram, nas desgarradas de feiras e romarias, que deixa os cantadores mais amigos, depois de se terem lançado piropos picantes. - Oferta para cabeceira, temos um livrinho de quadras soltas, dádiva do nosso bem e velho amigo Luís Gonzaga Tavares, que é uma delícia.
Se dissermos que se trata do Beirão oriundo da Aldeia do Bispo, concelho de Penamacor, aluno do Liceu de Castelo Branco, que mais tarde foi ilustre Director Geral da Contabilidade Pública do Ministério das Finanças, toda a rapaziada do meu tempo sabe de quem se trata… … É esse mesmo, o cardeal. “Também o Liceu p’ra mim, Foi solar episcopal. Foi lá que estudei latim. Saí de lá “Cardeal”! - Há relativamente pouco tempo, este mesmo Cardeal, escreveu um livrinho de Quadras Soltas, que nós tivemos o prazer de obsequiar o autor com algumas frases iniciais, o que nos deu muito prazer. - “Que belo e que natural é ter um amigo”, são palavras do grande transmontano Miguel Torga, que serviram também para obsequiar um amigo , nascido ocasionalmente em Lisboa, mas oriundo das terras beiroas de Aldeia do Bispo, onde existiu uma casa ligada às letras, com o nome de Fernão Lopes. - Também esperamos que Gonzaga Tavares, homem ilustre da nossa geração, venha a ser lembrado numa das pitorescas e enfeitadas ruelas da simpática aldeia. Gonzaga Tavares é merecedor, pelo que nos deixou da sua postura de cidadão digno, e escritor fora do comum. As suas quadras populares, os seus sonetos, entremeados com maravilhosas baladas, encantam-nos: «Ai meus amigos, em chegando à nossa idade Como é bom folhear o álbum da saudade. E ao fechá-lo ficar ouvindo docentemente. Esta balada do poeta em tom dolente: “Ai há quantos anos eu parti, sonhando De Castelo Branco, de capa a adejar! «Foi há vinte? Há trinta nem eu sei já quando” Nem sei dos amigos que aqui estão faltando, Quantos é que a morte nos veio já roubar.» Como não podia deixar de ser, nas suas Quadras Soltas, também recorda os seus: “A avó terna, meiga e doce, que eu adorava, Mais do que a santa da minha maior devoção, - A minha avó, agora ali, a tão curta distância, Como nos tempos da infância. Quando me contava estórias lindas, ao serão» Gonzaga Tavares é um homem simples, modesto, rejeitando sempre o que não lhe pertencia. “Não me tratem por doutor. Que eu não tenho esse direito. Galinha que não é minha, Não me serve de proveito”. Nesta quadra maravilhosa, o poeta mostra-se por dentro, diz-nos quem é e o que sempre foi. Com um registo Biográfico fora do vulgar, não deseja ser “doutor” que é um título desejado por muitos, mesmo sem canudo. Mas, Gonzaga Tavares, não deixa de utilizar o sarcasmo, quando vê que o autor a exceder-se - Não te fiques, vai à luta, E não te acanhar de mais. Que o primeiro milho, às vezes, Até nem é dos pardais. - Mas a última quadra, que nos encheu as medidas, como dia o povo, é oferta para os nossos leitores e também para o autor, com um abraço de velho amigo. O petiz ficou ali, Olhando a montra, de fora, A mãe contou as moedas E depois, foram-se embora Nota: E porque teriam ido embora, a Mãe e o petiz? O meu amigo, pela certa, vai responder-nos

 Castelo Branco 20-4-2010

IN  Jornal RECONQUISTA

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