quinta-feira, 7 de abril de 2011

A obra de José Manuel Landeiro

A venda deste livro reverteu na altura para o Clube Fernão Lopes de Aldeia do Bispo.
DA TERRA ORIGENS DE ALDEIA DO BISPO
"Se alguém perguntar a um filho desta Aldeia do Bispo qual a Terra que mais admira por todos os motivos de encanto e qual a que traz mais junto ao seu coração, acredite que nenhum deles lhe citará qualquer capital de Império, Reino ou República com as suas belezas naturais e artistico-arquitectónicas do seu casario, monumentos, que são livros em pedra a contar a história bélica ou religiosa dessas capitais, mas apontar-lhes-á a sua Aldeia, onde teve o seu berço e talvez o seu ninho de amor e onde quer ter a sua jazida para, ao lado dos seus pais e outros antepassados, dormir na noite da eternidade.
Falar da nossa Aldeia, a irrequieta terra ribeirinha, menina gaiata, saltitando à borda da sua ribeira que lhe fertiliza os campos, e que outrora era muito mais Iarga e de corrente de água permanente, onde se pescavam saborosos barbos e bogas, ') não é tarefa fácil, mas, pelo contrário, muito difícil. A história da fundação e da sua subsequente evolução mostra-se algo confusa, por carência de elementos suficientemente elucidativos e dados caraterizada-mente históricos bastantes para deles se tirar uma conclusão definitiva.Em face desta verificação, não é fora do normal aceitarmos a certeza de que a nossa terra existiria já de tempos anteriores à fundação da Nacionalidade. Os menos versados na História da Humanidade sabem, perfeitamente, que os povos remotos, no seu reconhecido e permanente nomadismo, buscavam para sua incerta fixação temporária as proximidades dos rios, construindo, assim, uma civilização de carácter acentuadamente histórico. Os povos remotos procuravamas margens dos rios, em geral a direita, para ali construirem o seu burgo. Foi isto mesmo que aconteceu com os fundados de Ulissipo (Lisboa) ; Portus (Porto) Cetóbriga (Setúbal) e tantas outras cidades portuguesas. Com a nossa Aldeia aconteceu outro tanto.
Os seus princípios ou a sua origem, segundo o seu próprio nome indica, não passa de uma simples quinta ou granja que foi pertença dos bispos da Egitânia quando estes se refugiaram em Penamacor, abandonando a sede da diocese, ') Egitânia, destruída pela moirama de Alcântara. Ali, em Penamacor, os prelados egitanienses e seu cabido estavam mais acobertos dos mouros de Alcântara.
Afirmamos ter sido uma quinta porque aldeia deriva do verbo grego Aldemain que significa quinta ou granja. É esta a opinião de muitos autores e, entre eles, a do grande Alexandre Herculano que passou por aqui em busca de arquivos para elaborar a sua monumental História de Portugal, que infelizmente só chegou ao reinado de D.Afonso .
Com o desenrolar dos anos, a nossa terra foi crescendo. e, a partir do século XVII, começou a aparecer nas torças das portas, inscrições epigrafadas, e para exemplo apontamos a Casa dos herdeiros de João Teixeira, a de Manuel Andrade, ao cimo da Barreira que nos conduz à Rua do Outeiro, que é a mais antiga rua desta povoação. Acreditamos que houvesse casas anteriores a estas, devido ao número de siglas de canteiro, usadas nas suas pedras desde o princípio da Idade Média até fins do século XV, embora constitua uma raridade no século XVI. Muitos destes sinais gravados nas pedras, às vezes por pedreiro que, sendo escravos, trabalhavam sob chicoteadas ou de pés , agrilhoados de correntes de ferro com bolas também de ferro. Esta aldeia do Bispo devia ter progredido imenso com a saída dos bispos egitanienses para a Guarda, de que eles se tornaram foreiros.
É a partir do século XVIII, devido aos inúmeros documentos que se encontram na nossa Torre do Tombo e em outras bibliotecas públicas, que a história desta Aldeia se começa a fazer com mais clareza. Assim o atestam, entre outros documentos, os registos paroquiais, as actas das Juntas da Paróquia, escrituras de compra e venda feitas pelos tabeliães, hoje notários, e tantos outros documentos oficiais.
Por estes, nós vemos que no século XIX, a toponímia, isto é, as ruas do povoado, já não se resumia só a rua do Outeiro e à rua que ligava esta à matriz da freguesia do orago de S. Bartolomeu. A povoação saltou para mais perto da margem esquerda da ribeira, onde, entre a rua do Outeiro e esta margem, havia ainda, no século XVIII, a Capela da Senhora do Rosário, cuja imagem ainda existe, mas já fora do culto. Com os anos formou-se uma Pova rua, a qual devido ao seu grande comprimento, se subdividiu em duas, ficando com os nomes de Rua do Rossio, e rua do Cavacal. A rua do Rossio ia desde o local onde hoje está a casa do falecido José Júlio Carreto, até ao largo do Rossio, entre as quais fica aquela onde nascemos, a casa do António Robalo Elvas e a de José da Costa Martins. A este largo seguia-se a do Cavacal, hoje Desembargador, que terminava onde está o Cruzeiro. Em seguida começou a aparecer a Rua do Caminho das Aranhas, e a Travessa do Forno, (antiga Rua do Norte e hoje D. Bárbara Tavares da Silva). Quer dizer, entre a Rua do Outeiro e a Rua do Rossio havia um grande espaço não urbanizado, e talvez devido ao facto de o Ribeiro do Batoco, que hoje passa por baixo da estrada, ser de leito mais largo do que o da actual ribeira. Era na Rua do Cavacai que residiam as famílias mais gradas da povoação. Na do Outeiro, como pessoas de destaque que ali tiveram a sua residência, anotamos apenas o Dr. Domingos Gil Pires, e a Família -' Remédio, oriunda de Salvaterra do Extremo. Todas as restantes casas, que hoje formam a toponímia da povoação, foram construídas a partir dos fins do século XIX até nossos dias.
Não tenhamos a menor dúvida que o subsolo desta aldeia é riquíssimo, Nele se cultivava a vinha, e as batatas a partir dos meados do século XIX, feijão e outros legumes, centeio, trigo e outras preganas. O azeite, o figo, milho e a cortiça constituem hoje a nossa maior riqueza agrícola, que, embora actualmente em precárias circunstâncias, dá ao povoado o suficiente para viver honestamente
A indústria, práticamente, existe só a dos lagares de azeites. A das moagens de farinha desapareceu com os anos. Recordamo-nos ainda dos velhos moinhos de vento (3) e das azenhas dos Manatas na Baságueda e da « moinhela» do Florêncio. Antes desta, e perto dela, teve o Dr. Pires Caldeira uma movida a água e bem assim com lagar de azeite, tipo romano. Existem ainda no local da canalização, em pedra, que conduzia a água à azenha.






MONUMENTOS
Aldeia do Bispo não possui monumentos dignos de nota na faceta artística da arquitectura. (') Ao de leve, já atrás dissemos que, ainda, nos alvores do século XVIII, existia a Capela da Senhora do Rosário que, talvez, a Incúria dos homens e as grandes enchentes da ribeira, juntamente com as do Batoco, a Inundaram tantas vezes, até que foi derruída. Segundo elementos certos, por nós colhidos, ficava situada no local onde hoje fica a casa de Joaquim Landeiro Borges.'
A Igreja matriz mais antiga a que se referem as crónicas, foi construida no- século XVII e, derruída quando. da construção da actual, em 1910.
Nesta igreja me fizeram cristão pelas águas baptismais, «nesta igreja aprendi as primeiras noções de história do povo de Israel; nesta igreja aprendi a vida: de Jesus, um romance no princípio, uma Iição sublime no meio, uma tragédia emocionante no fim». Neste santuário da minha terra ouvi autênticos e verdadeiros, panegéricos da vida dos grandes santos e mártires da cristandade. Aos pés do seu altar eu ajoelhei um dia, aos sete anos, para receber, pela primeira vez, o Pão dos Anjos a Força dos Portes. E é sempre com viva e grata saudade que entro neste santuário, para ruim o mais artístico e o mais encantador de todos os santuários da nossa Terra — Portugal!
Desta igreja resta apenas uma relíquia sagrada, mas muito valiosa pela sua arte manuelina, com tábuas representando o purgatório, onde dois anjos estendem cada um a sua mão a tirarem cada um, uma alma. Que beleza de pintura tem este altar das almas! O seu autor, como acontecia como todos os pintores antigos, não assinou. De que artista ou. escola. se. tratará? A frente da pintura está Cristo Crucificado, comj braços estendidos em linha recta e não em forma avambada pelo peso do corpo como outros Cristos crucificados. Ainda há dias estivemos junto dele e contemplámo-Lo quase em êxtase:_ De braços abertos para receber-nos e abraçar-nos, e, para não nos castigar, estão cra- vades. Olhos divinos eclipsados,- de tanto sangue e lágrimas cobertos que, para perdoar-nos, estão dispostos, e para não devassar-nos estão fechados; de pés pregados para não fugir-nos; a cabeça um pouco inclinada e baixa para chamar-nos; de sangue vestido para ungir-nos. Ao lado potente quero unir-nos; aos cravos quer atar-nos para ficar unido, atado e firme!
É esta a única relíquia, para nós sagrada, da igreja velhinha, da nossa infância cristã, onde rezaram sempre nossos pais, avós e antepassados de séculos, cujos lugares nós viemos a ocupar. Conserve-se esta relíquia tão querida para a. nossa alma amantíssima do Passado Cristão.
A actual igreja matriz de S. Bartolomeu foi construída. quando em Portugal começavam a surgir os ventos da impiedade anti-cristã.. É de estilo
Possui um «Padrão do Infante», inaugurado em 1960 pelo Subsecretário da Educação Nacional, Dr. Rebelo de Sousa.
De uma só nave e sem altar-mór. A planta foi feita por um dos padres do Colégio de S. Fiel. Custou 10.000 reis, que foram pagos pelo prof. Manuel Martins Leitão. Era pároco da Aldeia, o então jovem P.e Joaquim Moiteiro. Foi feita pelo Povo em 1910, segundo a inscrição existente na porta principal do Templo.
Não encontramos ainda inscrição mais correcta, mais certa que esta. Foi feita com o dinheiro e trabalho do povo, e nas obras trabalharam quase só artistas deste Povo. Nestes tempos, quando se assaltavam, profanavam e até se incendiavam igrejas por todo este nosso Portugal, sempre cristão,, Aldeia. do Bispo praticava, com a construção da sua nova, matriz, um acto público do seu arreigado cristianismo. Esta freguesia continuava a ser um feudo episcopal. Além da torre, o P.e José Maria, durante os 27 anos que paroquiou esta aldeia, mandou fazer os dois altares. laterais, mandando-os dourar e bem assim o altar-mor, pintar o teto, etc. Trabalharam na obra de cantaria, pedreiros da aldeia, sob a mestria de Miguel Antunes Isidoro, que fez as paredes. Seu filho Manuel construiu as colunas interiores em que se apoiam a torre e o coro. A torre já foi feita pelo mestre de pedreiros de Medelim, João Cartola, por 13.000$00. Como carpinteiros trabalharam José Toscano (Cabeças), José Manuel Pinto, que, como mestre, ganhava 450 reis diários. Que belos tempos! O relógio, que custou 5.000$00, foi adquirido pela Junta de Freguesia, em 1933. A caiação deve-se ao pároco, P.e Joaquim Lourenço, hoje Dr. Joaquim Maria Lourenço, arcediago de Beja.
A CAPELA DO ESPÍRITO SANTO
Já o P.e Carvalho da Costa na sua «Chorografia Portuguesa» (século XVIII) nos dá notícias da Capela do Espírito Santo, à Lameira. Anterior a este historiador e monografista, não há qualquer outro escritor que a ela se refira. Deve ser muito antiga. É de uma só nave e com capela-mór. Quando da criação da escola primária nesta aldeia pelo Decreto n.° 266, de 30 de Novembro de 1879, passou o corpo da capela a servir de escola, tendo havido o cuidado de adaptar, ao arco da capela-mor, umas portas. Assim, há quase cem anos, passou ela a ser um duplo templo-cristão e de luz. Na verdade, a escola do Espírito Santo foi um facho donde, até 1917, irradiou a jorros a luz da ciência e da sabedoria que iluminou inteligências de tantas gerações de advogados, médicos, professores, militares, engenheiros, etc. Ali aprendemos a ciência do ensino primário até à 31 classe. Não tinha condições pedagógicas algumas.
Quando em 1917 se efectuou a festa da árvore da iniciativa do «Século Agrícola», em que se divinizava (é o termo adequado) a árvore, o soalho caiu, e a escola foi, pedagógicamente, interdita. Mas voltemos atrás para falarmos só da capela. Esta devia ter sido construida, em sitio ermo, isto é, quando ali' não havia casa alguma. Tinha terrenos seus. De grande ou de pequena extensão? Ignoramos. O que é do nosso conhecimento, é de que a Lameira era conhecida por «Lameira do Espírito Santo» e que em 1882, se fez aforamento dum pedaço de terra da Lameira, pertencente ao Espirito Santo que tinha ao norte a casa de Joaquim Isidoro, com as condições dos aforadores fazerem ali uma casa e pagar por 4.000 reis uma oliveira pertencente ao Espírito Santo. A oliveira ficava entre a casa de Manuel Leitão e a de José da Costa. No mesmo ano, em 9 de Abril, são também aforadas as casas do Espírito Santo. Este possuía três casas, onde moravam o Manuel Leitão, Joaquim Isidoro e José Valente Júnior. Ainda no mesmo ano, a Irmandade do Espírito Santo pôs, em almoeda ou leilão, terreno para a construção de uma casa, no norte da capela, a pegar com as casas onde morava o Joaquim Isidoro. Vendeu-se mais terreno do adro entre a Casa do Manuel Leitão, a Capela, a de José da Costa e uma oliveira. Assim deve ter sido a origem do Bairro da Lameira. A frente da ermida, havia um cruzeiro que, mais tarde, se teve de se deslocar para junto da ribeira, à ponte velha.
A LAMEIRA
Não nos resta a menor dúvida de que a Lameira, cujo estudo devia ser feito à face da Geologia, foi em, eras já remotas, uma lagoa que os agentes moleladores internos transformaram no actual largo. Ainda hoje, ao ribeiro que, em parte, a circunda pelo norte e vai meter na ribeira junto ao lugar, o povo lhe chama Ribeiro da Lagoa. Neste largo, já, em 10 de Agosto de 1884, se restabeleceram feiras e mercados. Estes no último domingo de cada mês, e aquelas, uma, em 2 de Janeiro, outra, em Quinta-feira da Ascensão, a 3.' a 24 de Agosto (S. Bartolomeu), e a 4.°, no dia de Todos os Santos.
Pelas alturas de 1840, quando da publicação do «Regulamento das Matas do Concelho de Penamacor» pelo então presidente do Município de Penamacor, Dr. Domingos Gil Pires Caldeira, de Aldeia do Bispo, começou um particular, ao abrigo daquele «Regulamento», a plantar oliveiras e amoreiras, como se fosse em terreno seu. O que sucedeu na nossa terra, aconteceu em outros concelhos, como na Bemposta e cremos que na Meimoa. Entre o Município e a Junta da Paróquia de Aldeia do Bispo, a sua posse foi durante muitos anos objecto de brigas.
LAMEIRA DO ESPÍRITO SANTO
Na Lameira conhecemos nós a fonte que há poucos anos foi coberta e que tinha a marca do concelho — C.°. Conhecemos o Poço Novo», também coberto quando a fonte.
Ainda conhecemos, mas já em ruínas, uma outra nascente a que documentos chamaram poço, mas nós em criança ouvimos chamar-lhe Fonte Velha. Será o poço dos documentos? O chafariz que há anos, foi derruído, foi construído em 1927, em substituição do Chafariz Velho onde tinha havido obras em 1913. O actual é recente. O subsolo da Lameira é um caudal de água.
ESCOLA PRIMÃRIA
A escola mais próxima que havia era a de Aldeia de João Pires «que fica a sinto!» Kilómetros de mao caminho, e emposívil detransitar em virtude de ter desetraveçar a Cérra (!) denominada Portelinha». 1) «Nesta altura a Junta da Paróquia era composta por José Joaquim Robalo Gouveia, Manuel Robalo Elvas e Domingos Martins. A escola veio. Começou a funcionar como mista, e só mais tarde foi criada a escola feminina que funcionou em casa do Joaquim Landeiro Borges, da de Ana de Jesus Elvas, na de meus Pais, de 1903 a 1912, de que possuo contrato de arrendamento de 24.000 anuais, passando para a casa que hoje é do sr. Tenente Birra Leitão, em 1912. Finalmente, passou como a escola masculina para os edifícios a que hoje chamam escolas velhas, depois de há anos se ter feito a do Plano dos Centenários. O primeiro professor foi José de Andrade e Sousa e o 2.° Manuel Martins Leitão, seguindo-se seu filho José. A primeira professora foi D. Maria da Glória Martins. Hoje há seis agentes de ensino, três de cada sexo. Não queremos acabar este capítulo sem nos referir à acção do magistério do professor Manuel Martins Leitão e à acção decisiva que teve ao ser interdita a capela do Espírito Santo. Enquanto não se fez a escola velha, ofereceu, por empréstimo, a sua própria casa de residência e, depois, duma sala, onde reside o seu filho e sucessor José, hoje aposentado. Foi o prof. Manuel M. Leitão, um grande santeiro de almas. Da sua escola e, depois, da de seu filho saiu a élite de intelectuais: professores, médicos, sacerdotes, advogados, engenheiros, etc, que são o orgulho da nossa terra, a que já alguém, devido ao número de estudantes que frequentam liceus, seminários, escolas técnicas e Faculdades, chamou
a «Coimbra da Beira Baixa». Há mais de cem anos, embora nessa altura de
diminuto número, que uma geração de estudantes nasceu na nossa Aldeia, e tem vindo a aumentar de ano para ano, e, temos a certeza, jamais terá fim.
CLUBE FERNÃO LOPES
Deve-se a fundação desta sociedade recreativa e instrutiva ao grupo de estudantes que, em 1924, frequentava os liceus e escolas superiores. Estes rapazes, a cujo número temos a honra de ter pertencido, ali se reuniam, lendo jornais e ou entretendo-se no divertimento de jogo de Damas e Dominó.
O Clube, primeiramente instalado na casa da «Velha Filipa», teve e tem ainda como patrono o pai da História de Portugal — Fernão Lopes t) em virtude de se defender a ideia deste cronista ter nascido nesta região. A sua divisa é «arte, letras, ciências e agricultura,».
A sua primeira Direcção foi Francisco Landeiro Borges (Presidente); Alferes Antônio Lopes Robalo (Secretário) ; e o Prof. José Martins Leitão
Assinaram a «Termo do seu baptismo Francisco Landeiro Borges, Alferes Lopes Robalo, Prof. José Martins Leitão, José Manuel Landeiro e Amdndio Martins Leitão, .
soureiro) .A jota era de 5$00, cota, para os sócios residentes na localidade, 2$00, e, para os não residentes, geralmente estudantes, 1$00.
O Clube teve o seu grupo cênico, a que nós também pertencemos que teve ocasião de dar espectáculos não só nesta Aldeia como ainda no Teatro-Clube de Penamacor e em Monsanto. O produto destas récitas revertia a favor de melhoramentos locais, como igreja, escolas, chafariz (1927) ruas, etc.
As peças para a cena, eram todas escritas pelo prof. José Landeiro Borges. Foi pena que ele nunca tivesse publicado estas obras onde ele mostra um grande valor de dramaturgo.
Embora pobrezinho, o Clube soube resignar-se na sua pobreza durante alguns anos até aqui há cerca de 20 anos 1), a sua vida ressurgiu como a fénix das cinzas.
FESTA DA DESFOLHADA
Como tudo, estas festas têm a sua história e nesta se encontra a raiz da sua origem e data de nascimento. A data de nascimento das festas cívicas de Aldeia do Bispo encontra-se exarada juntamente no livro de termos de nascimentos onde se encontra o do Clube Fernão Lopes. Festas e Clube tiveram os mesmos pais — os estudantes. Os padrinhos é que foram diferentes. Foram concebidas ao findar de Julho de 1924, tendo visto a luz do dia, em 24 de Agosto daquele ano. Foram seus padrinhos a mordomia de S. Bartolomeu. Foi-lhe dado o nome de «Festa da Kermesse» . Qual o motivo para que foram elas instituídas? O povo desta Aldeia já, para seu belo prazer, não se contentava com a simples festa de S. Bartolomeu, com a sua missa solene, sermão, procissão e «ramo» de fogaças, tudo abrilhantado por uma filarmónica ou de Penamacor, Monsanto, Aldeia de João Pires ou de Pedrógão. Queria mais divertimentos e que estes se prolongassem pela noite adiante com arraial, na Lameira, e «fogo preso». Um grupo de estudantes juntamente com a mordomia fizeram para isso um «pacto» de colaboração: A mordomia tinha à sua conta a festa canónica, e a comissão da «Kermesse», as cívicas. Se se qualquer delas tivesse prejuízos materiais, a outra saldaria todas as dívidas desses prejuízos. Felizmente nem de um lado nem de outro, houve déficit, mas sempre saldo.
17 de Março de 1948.
O da «Kermesse» revertia a favor de melhoramentos públicos locais, e a da mordomia a favor do Santinho, nosso padroeiro. Uma das cláusulas do «pacto» acima citado era de que no fim da festa a comissão da «Kermesse» constituída por estudantes e meninas da povoação, tivesse uma merenda no campo e, à noite, um baile. Nestas coisas há sempre criticas do povo anónimo, critica maldizente e acusação de extravios de dinheiros, aplicações da receita em proveito próprio, etc. Mas a comissão da «Kermesse» não foi vítima destas criticas. Pelo contrário, o povo achava que quem tanto trabalhava para o interesse da festa, devia ter um dia seu para se divertir como quizesse, pudesse e entendesse. Assim, o piquenique e baile tinham o seu dia, um autêntico dia de festa para a mocidade estudantil. O baile era servido com bolos acompanhados de «Porto». Depois do baile que terminava à hora decretada pelas mãezinhas — meia hoite— havia muitas vezes serenatas, em que as gargantas eram molhadas em «Porto». Muitos estudantes dessa altura tocavam instrumentos de corda: viola, guitarra, bandolim e violino. Agora já assim não é...
A ATALAIA
Os dois primeiros reis da dinastia brigantina, ao verem-se em guerra com Castela, trataram de reparar fortalezas, levantar torres de vigia, etc. ao longo da fronteira luso-espanhola. Um dos baluartes de vigia conta-se a Atalaia, infelizmente em reinas, a leste da nossa terra a que os historiadores chamam «Castelo da Atalaia de Aldeia do Bispo», que, segundo a tradição, mas lendária, tinha uma só telha, por ter a forma de uma pirâmide rectangular. Do local onde se ergue esta torre de vigia, disfruta-se um maravilhoso e extenso panorama, formado por terras luso-espanholas. Foi construido em 1663. Os nossos olhos ainda leram esta data por cima da torça duma «janela», única luz que possuía a Torre, e que já há muito jaz no chão. A maldade dos homens mais que 'os seus 300 anos de existência, têm-se encarregado de destruir este documento histórico da Guerra da Restauração. Junto deste forte, nome porque é também conhecido esta Torre, se notabilizou, defendendo-o acèrrimamente durante a Guerra da Restauração, o oitavo senhor da Quinta de Antão Alves (limite de Penamacor) por ordem do General do Partido da Beira. Pinheiro Chagas, na sua História de Portugal, ao falar do «Castelo da Atalaia» diz assim: «Não começou (a Guerra da Restauração) com muita felicidade a Campanha da Beira em 1664; Afonso Furtado de Mendonça que estava comandando, por doença de Pedro Jaques de Magalhães, intentou impedir o duque de Oussena de construir um forte junto de Aldeia do Bispo, que nos podia ser muito prejudicial. Marchou contra ele com um exército de 6.000 infantes e mil cavalos, mas encontrando já o forte muito adiantado não ousou atacá-lo, tanto porque o exército inimigo era superior numèricamente, pois contava 7.000 infantes e 2.000 cavalos, como lhe parecia de mais apta para uma operação militar de certa importância». Pinheiro Chagas, dá-nos a entender que foram os espanhóis e não os portugueses quem mandou construir o forte.
O General João de Almeida, da Guarda, ao falar da nossa Atalaia, no seu «Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses» diz assim: «No cimo do monte da Atalaia, cota 591, situado a 1,5 km. a norte de Aranhas, a 8 de Penamacor e a 1,5 km. de Aldeia do Bispo, existe uma Torre, em forma de pirâmide rectangular, em ruínas, observando um largo horizonte para os lados da raia e ligando com Penamacor, Aldeia do Bispo, Penha Garcia e Monsanto. Pela sua magnífica situação é de presumir que ali existisse uma antiga fortaleza em construção lusitana, mais tarde restaurada na conquista neo-goda, desempenhando um papel de relevo durante as lutas entre portugueses e castelhanos, e depois com os espanhóis». Aqui fica, pois registado um abreviado apontamento sobre a história da Atalaia, onde, em certa época do ano, costuma nascer o Sol."

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